Os contadores de água ultrassónicos e a telemetria foram os grandes temas do evento que a Comissão Técnica de Normalização CT 116 -
Medição de escoamento de água em condutas fechadas da APDA realizou no sentido de analisar a evolução na medição da água no setor a nível nacional. O encontro “Avanços Tecnológicos e Estratégias na Medição da Água” teve lugar no dia 21 de março, na Pousada Convento de Beja, e pretendeu esclarecer e apoiar as entidades gestoras neste processo.
O primeiro grande painel, sob o mote “Contadores ultrassónicos - Tecnologia de futuro?”, revelou que, na escolha de um contador ultrassónico, as Entidades Gestoras devem ter em conta, entre outros critérios, a experiência do fabricante, as certificações necessárias em laboratórios europeus de referência, os estudos de envelhecimento acelerado, a duração da bateria, os caudais a que os contadores serão sujeitos, a taxa de amostragem, bem como a qualidade da água e a possível existência de interferências e a complexidade de entender e operar, comparativamente com os contadores mecânicos.
Na apresentação da experiência da EPAL na medição com recurso à tecnologia ultrassónica, a qual pretende continuar a implementar de forma gradual, ficou claro que, para qualquer modelo de contador, é crucial medir o volume e o caudal da água que circula na rede, de forma a obter uma faturação correta dos consumos, gerir o abastecimento, assim como detetar e prevenir fugas. Também a aplicação de um contador de água deve considerar a adequação das características ao uso pretendido, a correta instalação do contador, a manutenção e verificação do respetivo estado operacional, assim como deve ser avaliado o potencial de reutilização após a retirada de serviço.
Em formato de mesa-redonda foi analisada a “Sustentabilidade no ciclo de vida dos contadores”, onde após uma breve apresentação de enquadramento, realizada pelo elemento da CT 116 dos SIMAR de Loures e Odivelas e onde posteriormente intervieram elementos em representação de quatro áreas do setor que apesar de relacionadas, são distintas e complementares: Instituto Português da Qualidade, a Agência Portuguesa do Ambiente, a Itron - Sistemas de Medição em representação dos fabricantes, e os SMAS de Almada em representação das entidades gestoras. Foram visadas questões como a reciclagem de materiais e reparação de contadores, na perspetiva da economia circular, as regras de controlo metrológico que os contadores de água devem cumprir para que possam ser utilizados nas chamadas transações não negociadas, os diferentes fluxos de resíduos aplicáveis aos contadores, no processo de fabrico e no fim de vida, bem como práticas do fabrico e comercialização de contadores, tendo em vista o aproveitamento de materiais e a redução da pegada ecológica, bem como a reutilização dos contadores, na ótica da entidade gestora proprietária dos mesmos. No período de discussão foi observado que apesar de Portugal apresentar um parque considerável de contadores reparáveis, estes estão a ser inutilizados após a primeira utilização devido à dificuldade processual e logística de fazer a primeira verificação no final da reparação. Esta realidade impulsiona a uma reflexão no sentido de enquadrar, dentro da legislação, a reparação e verificação metrológica realizada por profissionais qualificados.
O painel “Metodologias de gestão do parque de contadores” avaliou o benefício das novas tecnologias na gestão do parque de contadores, tendo contado, para tal, com o contributo da experiência da Itron e da EMAS de Beja. Considerou-se que a implementação de aplicações, como a utilização de ferramentas de análise de dados orientada para a redução de perdas reais e aparentes, contribuem efetivamente para um projeto de otimização da eficiência da rede, para além de permitirem o acompanhamento das ações e o retorno do investimento desse projeto. Relativamente à metodologia de determinação dos erros de medição dos contadores, ficou assente que a aferição deste tipo de erros através de ensaios impele a adoção de medidas de gestão do parque de contadores, de modo a garantir a correta medição dos caudais de consumo.
Subordinado à “Telemetria – Atualidade”, o último painel de apresentações contou a participação de elementos da CT 116, tendo também estado representadas a Águas e Energia do Porto e a Águas de Cascais. Feita a contextualização da telemetria - ferramenta de recolha de dados - e respetivos contributos para a prestação de um melhor serviço ao cliente final, foi observado que antes da implementação de telemetria residencial é fundamental avaliar a pertinência desta para o contexto da entidade gestora. Caso seja para avançar, há que elaborar uma pirâmide de objetivos, de forma a que o projeto vá ao encontro das necessidades e expetativas da entidade gestora.
Já no âmbito das diferentes abordagens possíveis ao tratamento de dados, considerou-se que algumas entidades não assumem que dados sem qualidade prejudicam os respetivos resultados. Foi também demonstrado que as bases fundacionais de um processo eficiente de gestão de dados passam por contemplar premissas, tais como: a Qualidade dos Dados, a Governança dos dados e o Gerenciamento de Dados Mestre.
A partilha da experiência da Águas e Energia do Porto centrou-se no programa de gestão e renovação do parque de contadores, o qual, no fim de 2023, apresentava uma idade média de 4 anos e 7 meses e um erro médio de -2,6%, bem como uma cobertura de telemetria na ordem dos 71,94%. Foi igualmente sublinhado o trajeto desta entidade gestora na redução de Água Não Faturada (ANF), cuja percentagem chegou a cifrar-se nos 52,4% e que, já em 2024, alcançou o valor mínimo histórico de 13,28%. Destaque também para a apresentação dos desafios e estratégias no âmbito de um futuro sustentável e tecnológico da água.
Após igual abordagem à evolução do indicador de ANF no respetivo município, a Águas de Cascais enquadrou a abordagem à telemetria, tendo apresentado dois projetos: um com o objetivo de construir o Balanço Hídrico, de forma a priorizar e ponderar a deslocação de equipas de Deteção de Fugas às ZMC; e outro direcionado para a resolução de um problema de elevada frequência na paragem de funcionamento de contadores de rega, fuga ou fluxo inverso.
O evento contou com mais de 150 participantes, tendo decorrido, em paralelo, uma mostra de equipamentos e tecnologias das empresas Contaqua, Enermeter, Itron, IWT e Janz. De ressalvar igualmente o apoio da EMAS de Beja e da Câmara Municipal de Beja.